Antropofagia remixada?!

Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
[…]
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
[…]
Perguntei a um homem o que era o Direito.
Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. […]. Comia.

Qual relação pode ser feita entre o Movimento Antropofágico e a nova “Cultura do Remix”?

 

RIP! A Remix Manifesto:

1) A cultura sempre se constrói baseada no passado;
2) O passado sempre tenta controlar o futuro;
3) O futuro está se tornando menos livre;
4) Para construir sociedades livres é preciso limitar o controle sobre o passado.

8 comentários em “Antropofagia remixada?!

  1. MANIFESTO ANTROPOFÁGICO E MANIFESTO DO REMIX

    Para se entender e mesmo para fazer um comparativo ente o “Manifesto Antropofágico” e o “Manifesto Remix” é necessário saber o que se entende por criatividade.
    Há duas formas de se criar algo:
    • A primeira é idéia, a criação do espírito, é algo que nunca tinha existido; essa é a forma tradicional protegido pelo copyright;
    • A segunda é criar a partir de algo já feito, é modificar sobremaneira a idéia do outro a partir da sua idéia, não deixa de ser algo novo, mas baseado em uma idéia já existente; esse é a forma moderna “protegida pelo copyleft”.
    A partir dessas duas premissas é que se pode comparar os dois manifestos: ambos são revolucionários, se baseiam nas idéias já postas, pois elas “comem” as idéias para fazer algo novo, por isso a necessidade de compartilhamento das informações, pois é a partir dele que se cria nesses dois manifestos.
    Com o compartilhamento há uma mistura, uma junção das várias culturas, o que é denominado no documentário RIP! de mescla cultural. Ora, que cultura vivemos?
    Partindo da premissa do Manifesto Remix, de que a cultura sempre se baseia no passado, podemos chegar a conclusão de que vivemos o “ontem maquiado”. É por isso que eles afirmam que o futuro está ficando menos livre. Na verdade não está havendo futuro. Com isso a cultura realmente fica ameaçada.
    O que tem que haver é a liberdade para se criar, independente se baseada em outras idéias, e isso não é plágio ou contrafação, é viver o hoje com todos os seus anseios. Portanto, comamos e bebamos de tudo à vontade, pois só com o estômago cheio, nossa mente poderá criar o novo.

  2. O filme apresentado mostra como tema base o remix manifesto (que surge no ano de 2008), aqui apresentado como sendo o modo de fazer algo novo a partir de algo velho, apontando ainda a guerra que existirá pelo confronto de idéias que terá como campo de batalha a internet.
    O produtor do vídeo apresenta GIRL TALK como sendo o seu artista preferido, por esse fazer vários remix, ou seja, ele mexe com músicas ou músicos que são clássicos do rock, como Elton John e U2, cortando e rearranjando músicas para criar composições novas.
    Em 1998, quando a indústria fonográfica chegou a faturar mais de US$ 13 milhões por ano, foi criado o Napster. Este nada mais é, do que um programa que interliga computadores fazendo com que estes passem a compartilhar músicas entre si, criando um grande acervo musical que nem os milhões de processo sofridos por quem tenha feito tal compartilhamento ou download foi capaz de apagar.
    Como não podia ser diferente, em se tratando dos Estados Unidos, cerca de 50 milhões de pessoas foram processadas. Isso por que existem “pessoas” que acreditam que as ideais estão protegidas pelos direitos autorais e, além disso, veem nessa forma de criação de música a maneira mais fácil e rápida de conseguir dinheiro,ou seja, processando os criadores e pedindo valores absurdos.
    Por isso, quem faz remixagem luta contra dois grandes grupos que controlam a cultura americana e indiretamente a nossa, que são: a Associação Americana de filmes e a Associação Americana de gravadoras. Porém, por mais fortes que sejam, existe um monstros que as assustam e as ameaçam que é a pirataria.
    Existem ainda os chamados “esquerdos autorais”, sendo esses, pessoas que acreditam que as idéias devem ser de domínio público, para que possam haver o compartilhamento delas.Onde, na verdade, creio que quando se tornasse de domínio público o próprio Estado passaria a cobra os seus famosos direitos autorais.
    Me surge então o seguinte questionamento: quando será possível utilizar parte da obra de um autor e/ou compositor sem que seja ilegal ou sem risco de processo?
    A resposta é simples, quando for utilizado para expressar alguma opinião em um TEXTO e, desde que, ao final da citação seja feita a devida qualificação do “dono” da frase citada. Essa qualificação deverá conter o nome do autor, livro e página onde se encontra determinada fala.
    Chegando ao cúmulo do absurdo, pessoas chegam a ser condenadas a paga US$ 200 mil dólares por baixar da internet 24 canções de determinados artistas. E, mesmo quando as bandas resolvem se desvincularem de qualquer empresa fonográfica e lançar seus álbuns na internet para que os próprios fãs resolvam quanto deva pagar, não poderá ocorrer o remix. Pois, mesmo desvinculados das empresas, essas se sentem no de processar e fazer a cobrança do que ela achar devido pelo download feito.
    Já a antropofagia surge em 1920 com Oswaldo De Andrade, tendo como significado “comer carne humana”, seja no todo ou em parte. Porém, este conceito não deve ser levado ao pé da letra.
    A antropofagia une o mundo através da sua filosofia, economia e de sua forma social. Pois, é através desse movimento que se capturar o que há de melhor no outro, o máximo do que o outro tem. Na medida em que se devora e digeri, faz-se a mistura e constitui o que nós mesmos somos, a nossa força.
    Só a antropofagia une o mundo por meio da sua economia, forma social e filosofia. Pois, como já explicitado anteriormente, é através dela que se adquiri o conhecimento dos outro para si e se cria coisas novas para redistribuir no mundo.
    Diante do exposto com relação aos dois manifesto, pode-se observar que ambos baseiam-se em ideias já prontas para fazer ou ter a sua própria ideia, redistribuindo o que foi criado para o mundo.
    Percebesse ainda que cultura do presente está intimamente ligada com a cultura do passado, pois as criações/ideias que já existiam são apenas reformuladas ou atualizadas para serem lançadas no futuro.
    Ocorre ainda à grande ligação com o capitalismo, como não poderia ser diferente, pois hoje o mundo inteiro gira ao redor dele.

  3. No vídeo exibido em sala foi apresentado o confronto de ideias quando o “velho” é apresentado como “novo”, as ideias antigas são recicladas, sua essência é retirada e apresentada numa nova perspectiva que é a ideia central do MANIFESTO REMIX, movimento que surgiu em meados de 2008.
    O vídeo mostra o trabalho de um Deejay, que faz suas composições a partir de composições de terceiros, no caso deste profissional ele escolhe musicas de reconhecimento mundial, clássicos, e os remixa juntando varias partes de diferentes musicas fazendo a sua própria versão.
    A ideia da Antropofagia social cabe bem a este exemplo contemporâneo, seu trabalho nada mais é do que “comer” parte de uma ou várias ideias prontas para fazer surgir o novo, no filme essa prática nos deixa com a impressão de uma atividade que nos lembra a pirataria, seja pela rapidez da transmissão das informações ou pelo caráter descompromissado de tal atividade.
    Hoje a propriedade intelectual versa bastante sobre esse tipo de atividade no que diz respeito a real propriedade deste produto final e ainda há muito o que se discutir já que as opiniões são diversas, esta discursão envolve não apenas os “pequenos usurpadores” mas também grandes empresas , as gravadoras e produtoras que buscam lucrar, as vezes em valores irreais, sobre aqueles que lucram usando o seu trabalho dificilmente aceitariam apenas que lhe fossem dadas a devida citação nas obras de terceiros.
    Essa luta capitalista que já rendeu prejuízos milionários a usuários que baixaram arquivos de musica no passado, hoje dificilmente terminará com a facilidade buscada pelos interessados, isso porque a rapidez da informação e de programas de compartilhamento são absurdas e quando proibidos fazem surgir uma nova forma de fazê-los.
    Sendo assim a o que fica para refletirmos é que a discursão pode ser infinita mas não pode limitar a criação do novo baseado no antigo, pois agora entendo e (quase) parafraseando o “velho guerreiro” Chacrinha, nada se cria, tudo se copia!

  4. O movimento REMIX, como algo recente em nossa sociedade, pois, surgiu em 2008, buscando fazer o novo com algo velho. A antropofagia, também tem essa função de buscar fazer o novo com o velho, só que de uma forma filosófica.
    A cultura REMIX, nada mais é do que, a junção de uma musica ou ritmo de algo já existente e ter como resultado uma musica ou ritmo novo.
    A antropofagia busca, através de idéias antigas, formarem idéias melhores.

    Devido o exposto, fecho com esse brilhante auto Oswaldo de Andrade, cuja, me expandiu de forma impressionante meu entendimento sobre o assunto.

    Manifesto Antropofágico

    Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
    Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
    Tupi, or not tupi that is the question.
    Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
    Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
    Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa.
    O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.
    Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.
    Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-mundi do Brasil.
    Uma consciência participante, uma rítmica religiosa.
    Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar.
    Queremos a Revolução Caraiba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.
    A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.
    Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori Villegaignon print terre. Montaig-ne. O homem natural. Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos…
    Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará.
    Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.
    Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe : ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.
    O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.
    Só podemos atender ao mundo orecular.
    Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem.
    Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vitima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.
    Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.
    O instinto Caraíba.
    Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia.
    Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo.
    Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.
    Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro.
    Catiti Catiti
    Imara Notiá
    Notiá Imara
    Ipeju
    A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais.
    Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comia.
    Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso?
    Contra as histórias do homem que começam no Cabo Finisterra. O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César.
    A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue.
    Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas.
    Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira muitas vezes repetida.
    Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti.
    Se Deus é a consciênda do Universo Incriado, Guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais.
    Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário.
    As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o tédio especulativo.
    De William James e Voronoff. A transfiguração do Tabu em totem. Antropofagia.
    O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha: Ignorância real das coisas,fala de imaginação, entimento de autoridade ante a prole curiosa.
    É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à idéia de Deus. Mas a caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci.
    O objetivo criado reage com os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso?
    Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.
    Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz.
    A alegria é a prova dos nove.
    No matriarcado de Pindorama.
    Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada.
    Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimarnos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas.
    Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI.
    A alegria é a prova dos nove.
    A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura – ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modusvivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo – a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos.
    Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, – o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo.
    A nossa independência ainda não foi proclamada. Frape típica de D. João VI: – Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.
    Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.

    OSWALD DE ANDRADE
    Em Piratininga
    Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha.
    (Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1, maio de 1928.)

  5. Para entender a relação entre o Movimento Antropofágico e a Cultura do Remix se faz necessário entender o sentido etimológico da palavra “antropófago”. Originário do grego anthropos significa “homem” e phagein significa “comer”. Sendo assim, a antropofagia é o ato de consumir uma parte, ou várias partes da totalidade de um ser humano.
    O Movimento Antropofágico ocorreu durante as décadas de 1920 e 30, marcadas pelo Modernismo, e pregava que a cultura estrangeira não deveria ser negada. Ao invés disso, ela deveria ser “deglutida” (assimilada), e não imitada, para, ao entrar em contato com a cultura brasileira, proporcionar a criação de um novo produto cultural.
    Nos moldes do Movimento Antropofágico também temos o Tropicalismo. Este foi marcado durante a ditadura militar e tinha propostas de “digerir” a cultura exportada pelas potências culturais, tais como a Europa e os EUA, e “regurgitá-la” após ser mesclada com a cultura popular e a identidade nacional.
    Quanto à Cultura do Remix, abordada no filme-documentário “RIP! A Remix Manifesto” vislumbramos o mesmo mecanismo de criação de cultura. Resumidamente, o Remix, no seu processo de criação, normalmente escolhe uma música e trabalha nela de modo a modificá-la resultando, assim, em um novo produto cultural. Essa modificação, na maioria dos casos, é feita por um DJ, onde ele coloca uma batida animada e efeitos adicionais criando uma versão da música original.
    Dito isso, fica mais fácil entender a proximidade do Movimento Antropofágico com a Cultura do Remis. Ambos se utilizam de qualquer cultura disponível, não se restringindo à sua origem, para readaptá-las ao seu modo, criando, portanto, um novo resultado diferente do original. Porém, contra essa nova cultura temos a questão dos direitos autorais que visam impedir o uso indiscriminado das culturas disponíveis, uma vez que elas contribuem para a não arrecadação de milhões de dólares por falta do devido pagamento de uso da obra ao seu criador.

  6. O Movimento Antropofágico liderado por Oswald de Andrade visava à reafirmação da cultura brasileira, com identidade própria e pronta a ser exposta ao mundo. Segundo Oswald de Andrade havia chegado o momento de repensar a dependência cultural brasileira, sem qualquer submissão ao que vinha de fora. A antropofagia ditada pelo movimento consistia em devorar a cultura existente entre outros países, assimilando o que havia de bom e vomitando o que não prestasse ou que não fosse aplicável ao nosso cotidiano. As influências trazidas de outros países seriam unidas às ideias tipicamente brasileiras para produzir material genuinamente nacional a ser exportado para o mundo. Não se trata de imitação, mas de junção de elementos trazidos de fora (Europa e Estados Unidos, principalmente) à identidade brasileira produzida por descendentes de índios, descendentes de africanos, descendentes de europeus e descendentes de orientais.
    A Cultura do Remix surge como uma nova arte, fruto de uma nova realidade mundial, em que as pessoas compartilham ideias, músicas, produção literária e produção audiovisual com muita facilidade, graças às ferramentas disponíveis na Internet. Neste novo contexto, o fã ou consumidor final da obra passa a se apossar desta, como próprio autor fosse. A nova ordem é editar, compartilhar, modificar e, depois, divulgar pela internet. Desta forma, novas obras são geradas e ganham o mundo em milésimos de segundo. Em muitas situações, as novas obras geradas mostram apenas vestígios do conteúdo original, mas mesmo assim perceptíveis a quem a originalmente produziu. O problema central consiste na gritante violação ao direito autoral, no que se refere à compensação financeira ao autor original, por ter parte de sua obra executada. A cultura do remix sugere uma mudança no conceito de direito autoral como originalmente existente, com o objetivo de flexibilizar as leis existentes. No filme Rip Um Manifesto Remix é apresentado o músico Girl Talk, que é especialista em produzir música a partir de samples de outras obras. O filme mostra ainda a devassa provocada pela justiça americana e a aplicação do direito autoral na vida de pessoas humildes por conta do compartilhamento de músicas na Internet. O próprio diretor do filme incentiva a prática do remix, disponibilizando em sítios na Internet trechos do filme para que novos artistas tenham a oportunidade de expor as suas ideias, produzindo novos vídeos, novas obras.
    Tanto o movimento antropofágico como a Cultura do Remix tomam como base obras e inspirações de outros artistas para produzir material novo. No caso do movimento antropofágico, a inspiração é a arte europeia e a americana da época, incorporada a elementos nacionais para produzir a cultura brasileira. Já na Cultura do Remix, qualquer cultura pode servir como inspiração para a produção de arte. A partir do modernismo inspirado pelo movimento antropofágico surgiu no Brasil uma nova arte. No campo musical, é possível destacar a bossa nova, combinando o samba tipicamente brasileiro e o jazz americano e o tropicalismo, que traz a MPB com a presença de guitarras distorcidas, em alusão ao rock americano. Estes dois exemplos ilustram bem como a inspiração estrangeira serviu para produzir gêneros tipicamente brasileiros, e, relevantes, se analisado em um contexto mundial. É impossível prever o que possa vir a ser produzido a partir de ideias pregadas pela Cultura do Remix e limitar a criatividade por conta de uma legislação existente é inconcebível.

  7. A cultura brasileira já é antropofágica por si só, já nascemos dentro de um contexto cultural que engloba diversas culturas, uma de cada povo no qual tivemos oportunidade de receber em determinada região do país, logo Oswald de Andrade (que por ironia tem nome Anglo saxão), apenas catalisou a tendência antropofágica de nossa cultura, reafirmando que o “velho” no Brasil já nasce novo, e nasce melhor e mais criativo, vetando a copia e deixando a livre criação, o mix cultural ou a junção do que é bom em outras culturas, ainda pelo fato tendencioso que recebemos essas culturas de coração aberto, junto com o povo que a integra.
    Logo vemos que a cultura do remix, trata da mesma questão a produção do novo a partir do velho, o uso do que já é bom de forma nova, dando nova roupagem a cultura internacional e nacional, um exemplo disso é a cultura afroamericana no islã, com o RAP, a aceitação da cultura Norte Americana, num país onde há a Jihad, um exemplo de que através da cultura do remix a uma uniformização na maneira de pensar de muitas pessoas, por ser um fato novo a cultura do remix, dos anos 90 para cá, principalmente com a ferramenta da internet apenas deu uma catalisada no que já era velho no Brasil a MISTURA.

  8. O que dizer ao ouvir beutiful day do U2 em ritmo de samba? Pois bem foi o que aconteeu comigo final de semana passado. Achei incrível a sacada do DJ, até por que sou fã do U2. Mas o que seria isso? Seria a cultura do Remix ou puramente parte de um resquício do movimento ANTROPOFÁGICO? Vivemos em uma sociedade muito carente de criações e de criadores, Um movimento no qual tinha o nome de TROPICALISMO e da Bossa nova, já não existem mais e agora o que nos resta? Há muito tempo atrás buscava-se uma identidade cultural nossa que serviria de exemplo para o mundo. Buscava-se filtrar as coisas boas de determinadas culturas e criar uma linha de pensamento cultural totalmente independente e que ditasse o futuro. O passado sempre irá influenciar as novas gerações, mas precisamos de novas tendências. Jquest tocando Roberto Carlos como homenagem é super legal, mas será que não foi por falta de inspiração? Escolas de samba do carnaval do Rio relançandos sambas de enrredo antigos. Estamos realmente carentes de um relançamento do Movimento ANTROPOFÁGICO. Podemos chamar do Remix como uma nova tendência, meu Deus, onde vamos parar?

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